domingo, 30 de setembro de 2007

Antes do Fim nº2

"achar a perfeição dói por que ela é inalcançável, não pertence a esse mundo. a perfeição reside dentro (e fora, e através, e dos lados) disso que vemos e tocamos, a perfeição se pensa, não se entende, se sente, não se estuda. a perfeição prefere se retirar do cotidiano a fim de, logicamente, não se tornar característica frequente. intensamente, surge vezemquando, quando não a esperamos, claro: ela gosta de impressionar. a perfeição, muito raramente, pode ser ouvida. há também casos de, pasme, toda uma vida sem saber do que se trata. considere-se, pois, sortudo, se já se esbarrou a esmo pelas ruas com ela. e quando encontrá-la, trate de apreciá-la, anotá-la, escrevê-la, desenhá-la, que ela é coisa volátil e rara. com calma, porém, pois se assusta fácil, foge. não a persiga que é inútil, não corre, espera quieto que ela vem. e se não vir, é, bem, acredite em mim: terá apenas se poupado de uma dor sem fim."

-4 de julho de 2007

sábado, 29 de setembro de 2007

Antes do Fim nº1

"não sou de acreditar na possibilidade desses amores impossíveis, talvez tenha visto poucos filmes bonitos na infância, talvez tenha endurecido com o tempo, mas esse rosto novo e essa melodia - a harpa, talvez - não, não sei, a busca incansável, a desistência e o achado-enfim, a vontade de ignorar raciocínios, driblar os desígnios quaisquer que forem que não envolvam esse rosto novo, o não-saber por onde começar, o estar dopado, o não-ser sensato, todas essas coisas que fazem parte dos amores bonitos porem impossíveis. impossíveis, sim, afinal estamos aqui falando da vida real e esses amores assim bonitos só acontecem em telas grandes com pessoas bonitas - não por aqui, não nessas esquinas, aqui temos a ilusão de esperança através da melodia da harpa mas somente, e só - continuamos...continuo. continuo: preciso te contar, é uma coisa incrível essa impressionabilidade, como disse é apenas um rosto, não conheço a alma por trás e mesmo assim aqui estou eu e a pizza e o chocolate e todos nós a tarde toda em função somente desse rosto novo, e também a harpa. e me desculpem os grandes escritores mas não é tão difícil, não é tão difícil assim, basta olhar o rosto e elas vêm, as palavras, claro, como esqueci, também estiveram elas a tarde toda aqui comigo somente por causa desse rosto. mas não estão à contra gosto, talvez elas saibam que um dia chegarão aos olhos que pertencem ao rosto e assim quem sabe se sintam completas, especialmente se esse rosto, quem sabe, esboçar um sorriso, sim, aí ficariam satisfeitas as palavras e claro, também, o autor, enfim."

-4 de julho de 2007

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Quem sabe

O estar-vazio é um sentimento imprevisível e o é tanto que periga, talvez, acredito, não ser estar-vazio, e sim ser-vazio, existir-vazio, que seria não-existir. Dessa confusão quis dizer: o existir é o que acontece às vezes, durante a não-existência. O existir é o vacilo da neutralidade que, desatenta, permite um sorriso ou uma lágrima, que pra mim, é assim que se existe: sentindo, não pensando.

E o sorriso escapado e a lágrima fugida duram os poucos segundos que podem, as frações de minuto aproveitáveis. E nessa luz que penetra tão pouco, tão de vez em quando, tão tímida, é nela que se agarra e é ela que nos mantém de olhos abertos, evita a cegueira, encoraja a procura por mais trechos de luz na escuridão do não-existir, a escuridão do estar-vazio.

E continuaremos de olhos bem abertos. Quem sabe não acende um sol brilhante essa fagulha de luz tímida, e aí sim, seremos felizes e ofuscados, confusos na felicidade nova do enfim-existir, do tornar-se-completo.... Um dia.

sábado, 15 de setembro de 2007

42

"Let's end it here
Let's end it here"

E quarenta e duas horas depois, os olhos cansados, as olheiras, bocejos, cervejas demais no almoço. Às duas da tarde o vento costuma parar de correr, passeia com calma e periga até parar e junto com ele o tempo. Guardo os isqueiros, o cinzeiro, os restos da vida anterior, guardo num armario velho junto com o resto, tudo que não é mais necessario, tudo que machuca, tudo que já foi, as cinzas e tranco as portas. Não jogo fora: guardo, para que nunca me esqueça tudo aquilo que se passou. Vou poder visitar as cinzas uns dias ou outros, poder ser grato pelos dias novos, poder remexer as gimbas e encontrar explicações, não, não jogue as cinzas fora.

Mas deixe-as de lado, ignora esse ar podre e finja que está tudo bem, faça estar tudo bem.
Abre as janelas pro vento do tempo parado soprar.

"Untied and weightless
Unconscious as we cross
The international dateline
Let's end it here

Let's end it here
Let's end it here
Let's leave her here
Let's leave her here"

domingo, 9 de setembro de 2007

Juicebox

Ela não viu, mas chutou uma latinha sem querer e a latinha bateu no meu pé. Ela não viu, mas eu estava olhando, há tanto tempo, ela não viu.

Depois, muito depois, horas e horas e horas depois que passaram em minutos, o barulho ensurdecedor das mesmas musicas que todos conhecemos dificultava a conversa... Ou facilitava? E aquela mesma coisa, e tudo denovo, e qual seu nome, e a incerteza do por que estar fazendo tudo aquilo denovo, sempre funciona mas nunca dá certo. Eu estava fazendo de qualquer jeito. E funcionou.

Acorda-se, as memórias vultuosas se acomodam lentamente e um cigarro e um copo d'agua e a fome. E a fome que não é de comida, e a duvida, e dessa vez, vai dar certo? Melhor tapar os ouvidos, melhor deixar a resposta pra depois.


"Nobody can see me
Everythings too easy
Standing in the lightfield
Standing in the lightfield
Waiting for some actress
Waiting for some actress
To say
Why wont you come over here

Why wont you come over here
We've got a city to love"