sexta-feira, 27 de julho de 2007

O que há, companheiro?

Um sonho bom, é tudo que temos pedido esses dias, essas semanas, esse cansaço, dormimos exaustos, acordamos exaustos, temos vivido exaustos, gostamos de dizer que a vida está cansativa mas cansativos somos nós. Não há nada a fazer, exaustos na nossa imobilidade invencível, alguns jogos de cartas, festas, pessoas e apesar de andarmos tanto ainda estamos paralisados por dentro. Dói essa nossa mútua percepção do nosso sofrimento, nossos sofrimentos em plural merecido, dói a falta de remédio.
As conversas sem resolução, "é, pode ser, realmente, é uma pena", "é verdade, também estou, mas fazer o que?", fazer o que?
Fingimos socialmente um bem-estar preventivo, não queremos atenção, não queremos investigações alheias, ficamos nós dois dias a fio, a cara amarrada, cada um no seu canto, algumas piadas, uns poucos sorrisos sinceros escapam mas não duram, vamos espremendo daqui e dali alguns prazeres corriqueiros, inúteis, sabemos muito bem, não é de fora que o sofrimento vem.

"Strange days have found us
Strange days have tracked us down
They are going to destroy
Our casual joys
"

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Great Divide

Foi o que sobrou daquela tarde cinzenta em copacabana que iniciamos nós dois e mais outros alguns, não lembro, não vi, não sei, às três em um boteco.

Foi o que ficou na boca, depois das cervejas e cigarros e sorvete, o que ficou mesmo foi o meio-chiclete que você me deu, depois das palavras e dos beijos o que continua é ele, a metade que eu guardo como se fosse metade sua que você tivesse me dado.

Foi a tarde passando lenta, foi a noite, foram algumas manhãs, e virão outras, mas do que vai o que fica é você, a metade que você deixou em mim sem saber.


"a great divide between us now
something we should know"

There's something to remember: o meio-chiclete que você me deu.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Chove

De madrugada.

Também mais cedo, mais tarde, de tarde, chove sempre, todos os dias, choverá amanhã, choverá antes, choverá talvez, choverá com certeza, chove sempre.

Choverá no final, chove, afinal, constantemente, inexorável, chove desde que as nuvens esconderam o sol que eu não lembro como é, se é, como brilha, que é brilho, se brilhou algum dia talvez sim, dizem que sim, que brilhava muito, mas hoje chove, e amanhã chove, caminho sob a chuva sobre as ruas molhadas. Chove tentando apagar o cigarro, tentando aguar a cerveja, chove pra sempre choverá quando acordo e quando durmo, chove, sim, mas não se preocupe, amanhã abre o tempo, só chove assim dentro de mim.

domingo, 22 de julho de 2007

Depois, amanhã

Depois do fim veio o presente conturbado que vivemos.

Caminhei no falso-frio que me dava calor com esse casaco, pessoas pessoas só desconhecidos, ando até a praia, pessoas pessoas só desconhecidos. Espero... Um cigarro, dois, espero, três, ah, é, finalmente, eu já estava de saco cheio, pois é, ok, vamos lá.

Ela atravessou a rua com a jaqueta vermelha e o cabelo ruivo. Olhou sem querer se entregar, incerta.

-Oi!
-Oi!

...

-É, eu to indo ali no quiosque
-Eu também vou lá daqui a pouco
-Ok

E aí ela sorriu assim talvez um pouco permissiva ou eu queria acreditar nisso.

Depois de algumas cervejas e outros mais cigarros (que são, esses dois, os marcadores de tempo das noites) ela, novamente, dessa vez não nos falamos, só compartilhávamos pequenos fragmentos de um possível futuro próximo através dos olhos.

Só possivel.

Caminhei entre as pessoas pessoas a essa hora já alguns conhecidos, não me despeço, não se despedem, aceno para o taxi e jogo fora o cigarro nas ruas de mais uma noite perdida. Talvez, quiçá, depois, talvez amanhã.

sábado, 21 de julho de 2007

Fim

O início foi incoerente: aqueles sorrisos novos, o som alto, o encontro não-premeditado e suas graves consequências. A mesa, a vodka escondida e os copos de coca-cola, "porra, que lugar chato", "Chico, me empresta seu ipod", "Você é lindo, quer namorar comigo?".

"Quero."

A vodka, os copos, as bocas falam falam a gente não ouvia, "é eu quase não conheço mas adoro", "e essa?", "essa é otima", e todas aquelas coisas que se dizem nessas ocasiões, tateando-nos, criando esboços, nós dois tão confusos, entregando-nos, entregamos-nos, e começou tão rapido quanto veio o