sábado, 3 de novembro de 2007

Não vale a pena

Tem essas noites que são assim, bem "oh, abismo eterno do sentir!", bem piegas, bem desesperadas, você sabe, essas noites de cigarros múltiplos e cervejas se acumulando pelos móveis da casa (todas suas) e redescobertas e não-há-o-que-fazer. Resume-se a isso, aliás: não-há-o-que-fazer e você sabe e as cervejas sabem e fica-se a contemplar a impossibilidade de ação, imóvel - eterno, até, por um instante. Eterno no olhar pela janela que nada significou, na batida do coração ciumento que nada significou, na música ouvida e nas lágrimas choradas que nada significaram. Nas horas de imobilidade, essas sim, que custa mais o tempo passar, como que por sadismo: a madrugada demora na observação do seu desgosto, prolonga a angústia - essa palavra nojenta, tão precisa - e repito-me: não há nada a fazer.


Abismo eterno do sentir, inescapável voragem.


"Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício"