domingo, 23 de março de 2008

Cena 1 (ou: Como nos filmes)

Os dois amigos se olham.

- Por que você falou com ele?!
- Qual o problema?
- Esse garoto é louco. Você sabe disso.
- Ah, ele é fofo, vai.
- Fofo? Fofo?
- Tá com ciúmes? Ele é fofo sim. E bonitinho.
Ele ri. Ela continua.
- Além do mais, qual o problema, eu só disse um oi.

Ela era o centro da noite, irrefutavelmente. As luzes tentavam ser imparciais mas era difícil, todos os outros acabavam ficando no escuro perto dela e ela não sabia. E dançava, dançava, alguns drinques azuis ou de outras cores, algumas músicas e assim meio que do nada, talvez premeditado, talvez não, o garoto está do seu lado:

- Muito legal encontrar vocês aqui hoje! - Meio envergonhado, incerto de por que dizia aquilo mas inconsequentemente alegre.
O amigo ri.
E nesse momento, ela e o garoto se olham. A música pára, mas não pros outros. E desse momento em diante tudo aconteceu como devia, como o garoto sempre esperou. Como nos filmes.
Foi quando ela disse a coisa mais linda e ao mesmo tempo, mais perturbadora que o garoto já ouviu.

- Dizem que você me ama.

Mas ele não se surpreende. De alguma forma aquilo tudo estava planejado, ensaiado de novo e de novo, uma atuação tão sincera ao ponto de tornar-se realidade, apesar de nunca terem se falado além de uns "tudo bens" e "quer um gole da cerveja?"
O garoto responde:

- É verdade, mas eu não sei por quê.

Ela sorri, dá um passo pra frente e um beijo na sua bochecha.
Eles dão as mãos e dançam.
E o garoto foi feliz para sempre.

O amor mais bonito que já existiu.

Certamente porque nunca existiu.





"You had ‘em the moment you walked in
Everyone’s rooting just for you
And every smile and every single grin
Conquers and captures their hearts and minds
You can’t not win
Casting your spell,
So arresting, effortlessly flabbergasting
So far from what you’re suggesting
Girl, that gaze is everlasting"

domingo, 16 de março de 2008

Dawson

She's so nice and she's so smart, I'm always wondering why we're apart and I always think we could work it out even with all the shenanigans that go out her mouth and I simply cant help myself to be like that, I've known so many girls but she's always back and it's kinda the 5th scotch right now but if I call her to the movies she'll already be out with some other guy that ain't fun at all, ain't smart, ain't cute, just another picture on her wall, someone as uninsteresting as me with only one quality: she just met he, I mean, he's new, that's what she's into and I watch every single new boy, new love, new joy, they all go by, and I watch paciently waiting for the time that we can get it right and this can all be done but I'm really guessing it may never come.




"You're so nice and you're so smart
You're such a good friend, I have to break you heart
I'll tell you that I love you then I'll tear you world apart
Just pretend I didn't tear you world apart"

domingo, 2 de março de 2008

Winter

Nesse clima frio e seco, neve branca cobre as casas de sonho que a gente construiu. Estou sozinho no mundo por alguns minutos e não é bom, não é agradável, não é espiritual, não é relaxante. Mas não é triste: é nulo. Parece que não tem fim, a imobilidade de tudo é frustrante e me resta apenas esperar os minutos passarem largamente, ríspidos, digitais, diferentes daqueles minutos de ponteiro que passam por força de seu coração pulsante e vivo, ainda que de metal. Os meus minutos passam de forma lógica, perfeitamente calculada, sem sentir: como eu. E os minutos e as horas (que demoram) contam o que resta da minha vida, quanto falta pro próximo prazer, já disseram: "A felicidade é a constante repetição de prazeres" e tenho repetido poucos ultimamente, tenho me transformado mais em constante repetição de preocupações, de preconceitos, de raivinhas fúteis e de esperanças idiotas, e sempre em particípio mesmo, nada de gerúndios ou infinitivos ou infinitos, apenas amado, comido, fumado, bebido, pequenas partículas do passado, assim mesmo, terminadas. A única coisa contínua é a neve branca que cobre os sonhos e os sentidos mas eu posso esperar, quem sabe, que um sol brilhe forte pra transformar tanta neve branca em um novo mar azul celeste cheio de possibilidades: é isso que espero, poder navegar, poder lançar-me a descobrimentos e aventuras tão diversas dessa neve branca que prende as portas e as janelas.