quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Diminutivo

Tenho tido boas idéias para escrever. Todas, entretanto, me fogem a mente antes de chegar ao papel. Ou à tela, mais precisamente. Da relutância dessas palavras teimosas, me resta improvisar um texto sobre diversidades, just because. Não faz meu tipo misturar linguas (no escrito), mas. Mas nada. Tenho descoberto, na obviedade clichê dessas descobertas do tornar-se adulto (pretensão), que muitas coisas nos são mal, pessima, terrivelmente ensinadas. E enquanto eu tento falar de coisas profundas, meu (estimado) computador cisma em pontilhar as palavras de vermelho. Sublinhados à parte, nos ensinam mal quase tudo. Nos ensinam um amontoado de expectativas, projetadas em nossas mentes, completamente irreais. E enquanto avalio se vale ou não desenvolver o tema, abre maço, acende isqueiro, solta fumaça, espaço, frase ruim, apaga, ponto. Não sei se vale. O fato é que as expectativas são estúpidas a um ponto tão assustador que me pergunto como acreditamos nelas pra começo de conversa. Mas esse é o problema, como diz o ditado (me permitam, novamente), old habits die hard. Descontruir (+50 pontos literários) essas expectativas inglórias e se acostumar à inospitabilidade (me chamem de negativo - mas essa é a palavra) da vida não é tarefa fácil.

Entretanto, sob a sombra colossal das nossas esperanças épicas de perfeição e grandes feitos gloriosos, nos escapam de vista as coisas que realmente importam - itálico devido. Porque essas, as realmente importantes, não são momentos estrondosamente cinematográficos, sensações extraordinariamente fabulosas nem - por falta de terceiro elemento - nada desse tipo. São os prazerezinhos.

Essa denominação, que pode parecer meio idiota a princípio, talvez seja a mais precisa. E arrogantemente afirmo (há outro jeito de afirmar?): os prazerezinhos, muito mais que tornarem a vida suportável, a tornam... prazerosa.

Daí a incongruência fundalmental: fomos educados a prezar as GRANDES coisas, os GRANDES momentos, os GRANDES prazeres. E no entanto, são as pequenas coisas as mais valiosas. São as que, em suma, fazem a diferença.

Não vou me dar ao trabalho (inútil) de citar exemplos - os prazerezinhos são particulares, cada um tem os seus. Olhe em volta, procure-os na sua rotina, estão em todos os lugares. E, uma vez descobertos, nunca falham, jamais desapontam. Aí está a grandiosidade (paradoxo) da coisa - eles estarão sempre lá, injetando pequenas doses de alegria every now and then. E, diferente dos cometas que demoram anos para passar (como os enormes prazeres), os prazerezinhos estão por aí, espalhados pelo dia, prontos para te surpreender.

E de alguma forma inexplicável, os prazerezinhos, acumulados, ultrapassam em qualquer medida os prazeres enormes, pesados. Esses sobrecarregam, cansam, não se dão à degustação total, são até opressivos. Os prazeres grandes desbalanceiam a rotina, fazem falta depois. Não os prazerezinhos. Eles te alegram e ficam lá. Se quiser, basta olhar novamente, lá estará ele, te dará um sorriso e um oi. Como uma partezinha de existência tão contente de existir que quer se compartilhar com os outros.

Afinal, talvez a vida não seja, realmente, inóspita. Eis o que nos ensinam errado: a viver olhando o céu, caçando o brilho de estrelas que estão em sua indiferente existência - tão distantes... Enquanto o remédio para nossas insanas expectativas e o desprazer que elas nos causam está muito mais perto: deviamos parar de olhar, arrogantes, para cima, e começar a olhar, contentes, para os lados. Em busca dos prazerezinhos.






Para Valentina, que me proporciona diversos prazerezinhos todos os dias.