Estive deitado ao
léu contemplando o nada, contemplando a imensidão do tempo passar, contemplando o céu cinza pensando ora no céu cinza, ora em você. Estive tentando entender por que tanto esforço e por que eu, logo eu, estava ali, deitado, contemplando o céu cinza mas não tranquilamente: oprimido por obrigações e futuros
inexoráveis e compromissos, sempre compromissos e obrigações sem tempo pra parar e contemplar. Pensei nessas coisas diversas, nessas coisas que deixam a gente confuso, as folhas balançando, o chão de pedra, o amor, a amizade, o futuro, o passado e pensei, afinal, no agora. Esse agora que eu pude finalmente, por um momento, contemplar, era frágil e tímido e triste: esse agora não tinha você. E pensei nas causas e consequências, nas
direções possíveis, no sentido de seguir um sentido qualquer, na efemeridade de tudo. Pensei na falta de sentido de viver qualquer agora que não seja o agora-felicidade, o agora-realização, e pensei na incoerência de viver para o amanhã. E continuei a contemplar o céu cinza e a pensar na falta que você fazia naquele momento preciso, e tem feito em todos os momentos, e no entanto nada mudou: eu, cá, a contemplar, você, impossível, lá.